Roberto Chahim

Assim caminha a impunidade

Quatro horas da tarde de sábado. Saindo da Praia da Macumba, em frente ao CCB (Camping Clube do Brasil), escuto a voz do Beto: "Ué, rapá, cadê o teu carro!?"... Olho pro chão em tom de derrota e nem tenho coragem de olhar pra vaga onde deveria estar o meu carro estacionado. Dani, Claudinha e Beto, agora em coro, repetem:"É verdade, cadê o carro, Chahim???"

Não lembro de ter atravessado a pista, só me lembro agora que eu já estava do outro lado da pista ligando para o 190 e avisando que meu carro acabara de ser roubado, já que vinte minutos antes eu havia ido até o carro buscar os óculos escuros, pegar emprestado um shortjohn (roupa de neoprene pra pegar onda) e me despedir do Daniel K, que estava pegando onda com a gente no sábado.

Agora começa a criminalidade, o crime organizado se apóia nas fardas. Ainda na ligação para o ser bizarro do 190 escuto a informação que ela não poderia informar por rádio às patrulhas da Barra e adjacências, ela iria "lançar" no sistema que meu carro havia sido roubado e que a partir daí eu deveria ir até uma delegacia fazer o Boletim de Ocorrência, o famoso B.O.

Seguimos no carro do Beto para a delegacia que fica no outro extremo da Barra da Tijuca, fiz talvez o mesmo caminho que alguém estaria fazendo com meu carro. No caminho encontramos uma Blazer da DRFA (Delegacia de Repressão ao Furto de Autos) e tive a esperança de encontrar alguém que pudesse ajudar. Mero engano. Nesse momento, pelos meus cálculos, havia no máximo meia hora que meu carro tinha sido levado e avisei isso aos policiais que estavam na viatura. Quase implorei por atenção e eles me olhavam como se eu fosse um extraterrestre: "Como assim rádio? Passar rádio pra quem? Ah, sim, deixa a placa do seu carro aí... ah, por falar nisso, qual era o carro?" Essas foram as poucas palavras que lembro deles terem falado comigo. No fim pedi a eles que, caso vissem um carro igual ao meu pela rua, passando por ali, assim de repente, quem sabe... me senti um merda.

Chegando na 16ª DP da Barra da Tijuca imploro mais uma vez que alguém passe um rádio para as viaturas do Bairro, é claro que esse carro passaria por alguma patrulhinha em algum lugar. Mais uma vez sou olhado como um ET, isso depois de escutar um cara de dentro da Delegacia me avisar que eu deveria esperar minha vez de ser atendido.

Saio da Delegacia e, por dica de uma pessoa que estava lá também por um motivo semelhante, ligo para o Disque-Denúncia e informo o ocorrido. Daí já se passavam quase uma hora do furto. O atendente me informou que o melhor era eu ter informado uma viatura policial o quanto antes e me dirigir à uma delegacia, mesmo assim ele disse que meu carro constaria como roubado dali a duas horas nos computadores da polícia. Me senti um ET pela terceira vez no mesmo dia... e como eu estava surfando era lógico que os meus documentos e os do carro estariam dentro do veículo e, caso o ladrão fosse parado, ainda tiraria onda mostrando uma documentação toda em dia.

Vou resumir por aqui a história. Só consegui fazer o maldito B.O. por volta das 18h30min, no fim escuto um PM fardado me falar o seguinte: "seu carro fou furtado na Macumba? Era FIAT Tipo? Ihhhh... ali naquela área do Recreio, da Macumba, por ali eles roubam muitos carros da FIAT..."

Não voei no pescoço do cara por um único motivo: ele vestia farda e eu não tinha nem camisa pra vestir... eu estava descalço e sem camisa, que ficaram também no carro. A lei, mais uma vez, estava contra mim.

Esse foi o resumo de um sábado em que tudo deu errado, mas a merda não parou por aí, guardo o resto pra contar depois.

P.S.: Hoje ainda não apareceu e acredito que nem vai aparecer o carro, o mais engraçado é que todos à sua volta, inclusive a cia. de seguros (NUNCA FAÇAM SEGURO DA SUL AMÉRICA, NUNCA MESMO!!!) te fazem sentir culpado pelo seu carro ter sido roubado. Alguns chegam a me indagar "como eu pude deixar o documento no carro". Penso em responder: deveria tê-lo enfiado no cu enquanto surfava, né?
Foi isso mesmo 8:54 PM Chahim 1 comments